Autodefesa, armas nucleares e influência no Oriente Médio: o que querem Israel e Irã
Desde sexta-feira (13), países se enfrentam em ataques que já mataram mais de 240 pessoas. Programa nuclear iraniano está no centro do conflito. Israel e Ir...

Desde sexta-feira (13), países se enfrentam em ataques que já mataram mais de 240 pessoas. Programa nuclear iraniano está no centro do conflito. Israel e Irã intensificam bombardeios no quarto dia de guerra Israel e Irã trocam desde sexta-feira (13) uma série de ataques que já deixaram mais de 240 mortos, segundo autoridades dos dois países. No centro do conflito está o programa nuclear iraniano. Além disso, ambos mantêm há anos uma disputa por influência no Oriente Médio. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp AO VIVO: Veja as últimas notícias sobre o conflito. ▶️ Contexto: Bombardeios foram registrados em grandes cidades iranianas e israelenses nos últimos dias. Explosões atingiram centros como Tel Aviv, Jerusalém e Teerã. A operação militar foi iniciada por Israel, que afirma querer impedir o avanço do programa nuclear iraniano. Segundo Israel, o Irã está muito perto de obter uma arma nuclear, o que representaria uma ameaça para a região e o mundo. Israel tem mirado infraestrutura nuclear, cientistas do setor e a cúpula militar iraniana. O Irã, que acusa Israel de crimes de guerra, ordenou uma resposta imediata e passou a lançar mísseis contra o território israelense. O g1 e a GloboNews conversaram com especialistas para entender os objetivos de Irã e Israel no conflito atual. Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, e Hussein Kalout, cientista político e pesquisador de Harvard, afirmam que nenhum dos dois países atingiu suas metas até o momento. Os especialistas também veem com preocupação a ameaça do Irã de abandonar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Segundo eles, a saída do pacto pode aumentar a instabilidade e provocar uma escalada ainda mais perigosa no conflito. Nesta reportagem você vai entender: O que quer o Irã? O que quer Israel? O papel dos EUA e o acordo nuclear 1. O que quer o Irã? O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei Office of the Iranian Supreme Leader/WANA (West Asia News Agency)/Handout via REUTERS Desde a Revolução Iraniana, em 1979, o regime estabelecido pelos aiatolás passou a buscar a redução da influência do Ocidente no Oriente Médio e a projeção do Irã como uma potência regional. Antes da revolução, o Irã era uma monarquia que tinha os Estados Unidos como um forte aliado. Além disso, o país também era amigo de Israel, sendo um dos primeiros do mundo a reconhecer o Estado israelense. Com a queda da monarquia e a criação de uma república islâmica, o Irã mudou de rumo. Israel passou a ser visto como inimigo, e o país começou a atuar em diferentes frentes para ampliar sua influência na região: Diplomática: o Irã se aproximou de países que fazem oposição a Israel e aos Estados Unidos no Oriente Médio, buscando alianças fora do eixo ocidental. Econômica: o governo iraniano se tornou financiador de grupos armados que se opõem Israel na região. Essa rede ganhou forma ao longo do tempo, sendo atualmente conhecida como Eixo da Resistência. Militar: além do apoio a grupos armados, o programa nuclear iraniano tornou-se um instrumento de barganha com as grandes potências mundiais. O Irã nega que deseja obter uma arma nuclear, mas o avanço no setor é visto como uma ameaça por países como EUA e Israel. Para Uriã Fancelli, atualmente o Irã vive uma situação delicada. Além de enfrentar uma grave crise econômica, o governo lida com forte insatisfação popular e viu o enfraquecimento de aliados regionais, como Hezbollah e Hamas, além da queda do regime de Bashar al-Assad na Síria. Segundo o professor, mesmo em meio à fragilidade, o regime autoritário tenta demonstrar força e dar sinais que segue ativo. Nesse cenário, Fancelli avalia que o país busca equilibrar dois movimentos ao mesmo tempo. "Por um lado, o Irã responde militarmente aos ataques israelenses, exibe seu arsenal de mísseis e tenta sinalizar capacidade de dissuasão. Por outro, os relatos de que Teerã já pediu a mediação de países do Golfo para que pressionem Donald Trump a negociar um cessar-fogo mostram que as opções reais do regime são limitadas." Em entrevista à GloboNews, o professor Hussein Kalout disse que o Irã ainda não atingiu seus objetivos estratégicos e deve manter a retórica de que segue participando das negociações sobre um acordo nuclear. "O Irã busca tentar restabelecer algum poder dissuasório e fazer que o governo de Israel sinta o risco de manter essa escala no conflito", afirma. Kalout também chama a atenção para a ameaça de Teerã de abandonar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Segundo ele, essa decisão seria perigosa e pode levar o país por um caminho semelhante ao seguido pela Coreia do Norte. Voltar ao início. 2. O que quer Israel? O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante pronunciamento em 21 de maio de 2025 REUTERS/Ronen Zvulun/Pool Israel afirma que o Irã tem expandido sua força militar com o objetivo de destruir o Estado israelense. Teerã também é apontado por Israel como o principal patrocinador do terrorismo no mundo e uma ameaça direta. Ao lançar um ataque na sexta-feira (13), Israel anunciou o início da operação "The Rising Lion" — ou "Leão em Ascensão" —, com a meta de eliminar a ameaça nuclear iraniana e com o argumento de autodefesa. Segundo autoridades, os objetivos são: Destruir a infraestrutura nuclear e atrasar o programa nuclear do Irã. Atacar a cúpula militar, de inteligência e científica envolvida no desenvolvimento nuclear. Impedir de forma definitiva que o Irã consiga uma arma nuclear. Reduzir a capacidade de ataque do Irã com a destruição do arsenal militar do país. O bombardeio israelense atingiu instalações-chave do programa iraniano, incluindo a usina de Natanz, considerada o centro do projeto nuclear. O ataque também provocou a morte de dois dos principais líderes militares do Irã, entre eles os chefes da Guarda Revolucionária e das Forças Armadas. Pelo menos 14 cientistas nucleares também foram assassinados. Em pronunciamento, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o ataque destruiu grande parte do arsenal de mísseis balísticos iranianos. Apesar de o governo israelense divulgar que grande parte dos objetivos foi alcançada, o professor Uriã Fancelli avalia que Israel ainda está longe de atingir suas metas. Ele cita, por exemplo, uma declaração de Netanyahu para derrubar o regime do aiatolá Ali Khamenei. "Israel pode até afirmar que atingiu seus objetivos, mas a verdade é que ainda está longe disso." Em relação à capacidade nuclear, Fancelli argumenta que o desmonte total do programa só seria possível com a eliminação completa da infraestrutura de enriquecimento de urânio e a neutralização da rede científica envolvida — algo considerado altamente desafiador. "Não se sabe sequer se o Irã não mantém estoques ocultos em locais ainda desconhecidos. Além disso, Israel não conseguiu destruir por completo as instalações de Fordow, que estão a centenas de metros de profundidade e exigiriam o uso das Bunker Buster Bombs, armas que apenas os Estados Unidos possuem", afirma. O professor acrescenta que, até agora, a ofensiva israelense não foi capaz de abalar as intenções do Irã. Pelo contrário: Teerã agora ameaça abandonar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, o que, segundo ele, pode representar uma escalada ainda mais perigosa na região. Hussein Kalout também avalia que Israel ainda não alcançou seus objetivos estratégicos. Segundo o cientista político, a guerra entre os dois países deve continuar por mais algum tempo. "Israel não considera como uma opção paralisar o conflito, porque entende que ainda há espaço e cobertura internacional para continuar sua operação militar. E os iranianos estão, por ora, emparedados", afirma. Voltar ao início. 3. EUA e o acordo nuclear Trump no Salão Oval da Casa Branca em 19 de maio de 2025 REUTERS/Kevin Lamarque Os Estados Unidos tentam convencer o Irã a interromper ou limitar o programa nuclear por meio de um acordo internacional. Em 2015, Teerã assinou um tratado com Washington e outras potências mundiais sobre o tema. Três anos depois, no entanto, os EUA se retiraram do pacto. Ao retornar à Casa Branca neste ano, o presidente Donald Trump restabeleceu a política de “pressão máxima” contra o Irã. Na prática, ele impôs uma série de sanções para dificultar o avanço do programa nuclear. O temor dos Estados Unidos é que o Irã desenvolva uma arma nuclear. Segundo a ONU, o país está próximo desse objetivo. Segundo Israel, Teerã já teria material suficiente para produzir nove bombas atômicas. O governo iraniano, por outro lado, nega a intenção de produzir artefatos do tipo e afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos e civis. Delegações do Irã e dos Estados Unidos chegaram a se reunir algumas vezes nos últimos meses, mas ainda não houve avanço nas negociações. Vale lembrar que o acordo assinado em 2015 foi resultado de anos de conversas. Mesmo em meio ao conflito atual, Trump mantém a pressão e cobra um novo acordo nuclear “antes que seja tarde demais”. O presidente tem repetido que o Irã não pode ter uma arma nuclear e afirma que Teerã está perdendo o conflito com Israel. Voltar ao início. VÍDEOS: mais assistidos do g1